Entrevistas

Entrevista: Orlando Drummond, a voz do Scooby-Doo no Brasil

Entrevista realizada por Izaías Correia

Orlando Drummond Cardoso, é apenas, na opinião de muitos, o melhor dublador brasileiro de todos os tempos. Drummond nasceu em São Paulo, no dia 19 de abril de 1921.

Iniciou sua carreira em 1942 como contrarregra, depois encenou filmes como Rei do Movimento (1954) e Angu de Caroço (1955), na época era necessário dublar os próprios personagens depois de gravado o filme, foi o primeiro passo para uma carreira de sucesso para Drummond no mercado da dublagem. Em 1956 quando o ator atuou como radialista foi o passo final para que ele ingressasse na carreira de dublador, onde emprestou sua voz a uma infinidade de personagens que marcou a infância de muita gente.

Fora das telas, Drummond é um conhecido comediante. Com o amigo Ivon Cury, o humorista rodou todo o Brasil com um stand-up comedy de três horas e meia. A ideia foi abandonada após a morte do parceiro.

Como ator, participou da Escolinha do Professor Raimundo interpretando o Seu Peru, do Zorra Total interpretando o Índio Cacique e da telenovela Caça Talentos interpretando o Zaratrusta.


Entre os personagens dublados por Drummond estão: Scooby-Doo, Popeye, Bionicão, Dr. Kawa, Oliver Hardy, Hong Kong Fu, Gato Guerreiro, Trailbreaker, Abeleão, Vingador, Sargento Garcia, Gargamel, Frangolino, Bafo-de-Onça, Max, Coisa, entre outros.

Sempre bem humorado, Orlando Drummond nos concedeu esse bate-papo maravilhoso e descontraído para falar um pouco mais sobre sua carreira. Com vocês…o Papa da Dublagem…Orlando Drummond!

“Você não imagina a alegria de trabalhar para a criança de hoje, adulto de amanhã.”

Orlando Drummond

Dublagem Brasileira – Orlando Drummond, como você começou a carreira artística?

Orlando Drummond – Comecei minha carreira como contrarregra em 1942 na Rádio Tupi. Foi um início muito bom, onde conheci alguns dos maiores atores da época como Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, Carlos Machado, Olavo de Barros, Restier Jr., Tina Vita, Sonia Barreto, além de Paulo Gracindo, meu Guru, que como Diretor do Rádio Teatro, me deu a chance de me tornar um Rádio-Ator, dali seguindo minha carreira, já como comediante, até os dias de hoje, graças a Deus.

DB – Então veio a dublagem…

OD – Tornei-me dublador em 1960, atuando na “ZIV”, atual “Delart”, do Carlos De La Riva, e no Herbert Richers, que eram as duas melhores empresas do gênero, e nas quais trabalho até hoje…

DB – Você lembra do primeiro trabalho de destaque na dublagem?

OD – Meu primeiro destaque foi na série Os Três Mosqueteiros, em que fazia a voz do gordão Porthos. Depois veio o Sargento Garcia, no Zorro.

DB – Você marcou a infância de tantos com a dublagem do Popeye. Lembra como compôs o personagem, nota-se que você mudou um pouco sua voz ali?

OD – No Popeye procurei manter o mesmo padrão de voz do original. A decisão se mostrou a mais acertada, afinal o Popeye foi um sucesso e é um dos personagens mais marcantes de minha carreira de dublador.

DB – Uma das parcerias da dublagem mais amadas no Brasil é a sua com o Monjardim, com Scooby e Salsicha, simplesmente por ter ficado melhor do que o original. Fale sobre esse trabalho.

OD – Realmente me deu muito prazer fazer a voz do Scooby-Doo, especialmente pela oportunidade de estabelecer a parceria perfeita com o Mário Monjardim, meu amigo de fé e dublador do Salsicha. Vale lembrar que a minha criação me valeu a entrada no Guiness Book, como a dublagem de desenho animado a ficar no ar por mais tempo, cerca de 34 anos..

Orlando Drummond descontraindo ao imitar o Seu Peru - Zo Guimarães - Folhapress

DB – O Alf tem um jeitão malandro e brincalhão, com gírias bem brasileiras, você teve essa liberdade para nacionalizar o personagem?

OD – O ALF foi o segundo personagem que me deu muito prazer de fazer. Tive a liberdade para criar e lancei o “Tá limpo!!”. No original o Alf dizia: “No problem!”. Imagina só que negócio sem graça a tradução literal “sem problema!”. Mandei o “Tá limpo!!” que ficou uma coisa com muito mais tempero.

DB – Dentro da imensa filmografia que você tem, algum personagem te marcou e pouca gente o menciona?

OD – Não. Todos os principais personagens que eu dublei estão na boca do povo.

DB – Como você convive com o título de “Papa da Dublagem Brasileira”?

OD – Esse título de “Papa” é coisa de antiguidade. Sou dos mais antigos dubladores em atividade.

DB – Pra você, o que é ter feito parte da infância de tanta gente?

OD – Você não imagina a alegria de trabalhar para a criança de hoje, adulto de amanhã. Frequentemente sou surpreendido por um adulto de hoje, criança de ontem, que menciona o fato de eu fazer parte de suas recordações de infância. São encontros emocionados de parte a parte e, particularmente pra mim, muito gratificantes. São cinquenta anos, bicho! E hoje digo que valeu demais.

DB – Você pode ser considerado o primeiro dublador brasileiro da Disney. Nos conte essa história.

OD – Foi realmente um acontecimento. Participei de um filme do Disney em 1947. Primeiro fiz a voz gravada que foi para os estúdios da Disney para colocarem as imagens de acordo com a voz, exatamente ao contrário do que é feito hoje, que é colocar a voz na imagem. Hoje é muito mais complicado, sem dúvida nenhuma.

DB – Que companheiro de dublagem te deu mais prazer em trabalhar? Com quem gostaria de ter trabalhado?

OD – O prazer maior foi com o Mário Monjardim, extraordinário dublador e diretor, mas, acima de tudo, grande e querido Amigo. Nestes cinquenta anos de dublagem trabalhei com todos os talentos. Posso citar alguns, misturando uns mais antigos com uns mais recentes: Alberto Perez, Jorge Ramos, Alan Lima, André Filho, Isaac Bardavid, Mauro Ramos, Sonia Ferreira, Marlene Costa, Sumára Louise, Miriam Fischer, Nizo Neto e muitos outros.

DB – Da nova safra de profissionais da dublagem quais os nomes que mais lhe chamam a atenção?

OD – Da novíssima safra, pela versatilidade e profissionalismo, Felipe Drummond, meu neto, de apenas 21 anos. Outros, mais velhos e com mais bagagem, que eu citaria, são: Guilherme Briggs, Alexandre Moreno, Felipe Grinan, Peterson Adriano, Ricardo Juarez e Phillipe Maia. Peço desculpas se me esqueci de alguém.

DB – Se você tivesse que apontar algum momento emocionante em sua carreira de dublador, qual seria?

OD – Em cinquenta anos de trabalho, tudo tem sido maravilhoso. Nada pode ser mais emocionante do que isso.

Durante homenagem aos seus 100 anos na nova versão da Escolinha.

DB – Como veio o convite para Escolinha do Professor Raimundo?

OD – A princípio, não era eu o escolhido para o papel. Mas o outro ator escalado nunca havia interpretado um homossexual, razão pela qual desistiu do papel. Tomando conhecimento, o Chico Anysio mandou me chamar e, assim, Seu Peru já nasceu dizendo: “Foi a Glória!!… Dei o maiorrrrrrapoio!!”

DB – É verdade que o sucesso de Seu Peru acabou quase mudando seu nome?

OD – De certa forma, sim. Seu Peru é daqueles personagens que ganham vida e alçam voo próprio. No imaginário popular, alguns personagens se tornam indissociáveis de seus intérpretes. O Seu Peru é um destes casos. É comum as pessoas se dirigirem a mim, me tratando de Seu Peru.

DB – Tem alguma história curiosa do público em relação ao Seu Peru?

OD – Sim, há alguns anos. Moro em Vila Isabel e, certa vez, voltando de gravação no PROJAC, fui obrigado a parar por uma rapaziada barra-pesada. Os caras já iam começar a me “depenar” quando um deles, que parecia ser o líder, disse: “Ih!!! Eu manjo esse cara!! É o Seu Peru, da Escolinha. É a voz do Popeye e do Scooby-Doo!!”. Aí o malandro aliviou e até me convidou pra tomar uma cervejinha.

DB – Em 2003 você ganhou uma merecida homenagem quando foi criada a Oficina de Teatro Orlando Drummond.

OD – Gosto muito de São Lourenço, estância hidromineral no sul de Minas Gerais. É um lugar de que gosto muito e onde mantenho um apartamento que é meu refúgio de férias e feriados. Modéstia a parte, sou muito querido por lá, já tendo recebido até o Título de Cidadão Honorário de São Lourenço. Então é um lugar onde fiz muitos amigos. Dois destes amigos, o casal Helena e Nei, Cabos da Polícia Militar, na época servindo em Carmo de Minas, cidade vizinha, mantinham um belíssimo trabalho social junto a crianças carentes. Dentre outras atividades, os jovens frequentavam uma escola de Teatro, que acabou recebendo meu nome, numa homenagem que muito me emocionou.

DB – Orlando Drummond, muito obrigado pelo papo! Deixe uma mensagem para os visitantes que estão lendo essa entrevista.

OD – Tive imenso prazer em bater este papo com vocês, estou sempre as ordens. Parabenizo o trabalho do DB. Trata-se de iniciativa que valoriza o trabalho de gente dedicada e competente como os dubladores. Para mim, o bom dublador é um super ator, pois tem de ter imenso poder de interpretação, uma vez que precisa expressar na voz a emoção que outro ator construiu, além de ter de concatenar os seus movimentos labiais com os do personagem que está sendo dublado. É trabalho que exige extraordinária qualificação. não sabem, mas o Brasil tem uma das melhores dublagens do mundo. Mesmo assim, às vezes somos alvo de críticas de gente que não conhece nosso trabalho. Alguns elitistas torcem o nariz para a dublagem. Querem o quê? Filmes em inglês com legendas? Nem todos os brasileiros dominam o inglês. Muitos sequer são capazes de acompanhar legendas. A dublagem democratiza o cinema e a TV, aberta ou por assinatura. Por estas e por outras me orgulho de ser dublador.

Izaías Correia
Izaías Correia
Professor, roteirista e web-designer, responsável pelo site InfanTv. Também é pesquisador da dublagem brasileira.

One Reply to “Entrevista: Orlando Drummond, a voz do Scooby-Doo no Brasil

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